Nós
Nós
NÓS in Marcus Bastos & Patricia Moran, Audiovisual ao Vivo, intermeios, 2021, São Paulo, pg 76/77, pg 78/79 e pg 80/81
Meu Depoimento
Em Nós, que está em TRÄMA e na capa do livro virtual do MAC, Museu de Arte Contemporânea da USP, vê-se um personagem submetido ao garrote vil. O garrote era uma forma de execução que esteve em uso na Espanha desde o século XIX até 1974. Era pena alternativa, além do fuzilamento, à decapitação, esta destinada à gente de nobreza, de riqueza ou de projeção.
dai o nome Garrote Vil.
A execução de Salvador Puig Antich, um militante anarquista e Heins Ches, nome falso de um alemão que sem motivo aparente matara dois policiais, em 1974, causou enorme comoção. Jornais publicaram; Tápies expos, em Paris, uma série de gravuras em memória de Puig; e muitos se estarreceram pelo método e pelo fato que testumunhas negaram a autoria do crime.
Li a notícia, mas não vi imagens da execução. Matutando o que seria aquilo, atei-me a um poste em posição imaginada e me fiz fotografar. Durante aqueles momentos imaginei Nós. As fotos da performance no garrote imaginário compoem o registro dessa performance e foram usadas para a fotomontagem adquirida pela KADIST Collection; deu motivo para a série de S8 de título OU; e ao poema visual bord, reconhecendo que a imagem, uma vez invertida, é semelhante à figura da letra b, então NÓS seria semelhante à figura de um não b. Em ingles, be e not be.
Alguns anos mais tarde usei o título NÓS, muito sujestivo, para uma nova performance cujas fotos documentais figuram no VT Nós versãoII e nas sequëncias "il corpo che cade " e "e caddi come corpo morto cade" do album com o mesmo título.
A partir da experiência compus, ainda a Crise da Existência em Me; a Crise da Existência em Te; e a Crise da Existência em SE que estão no álbum Em Quatro se Desentende Melhor onde figuram, ainda Mauricio Fridman; Marcelo Nitsche e Guinter Parschalk.
A entrevista a Francisco Salas, PM8 Galeria, publicada em Artissima 2016, Turim, Itália, acrescenta explicações ao tema:
Nós, entrevista a Francisco Salas
Nós vem da mesma fonte interna: minha impressão sobre a violência contra o individuo. Eu posso explicar isso mais especificamente, descrevendo as 3 versões de Nós, não apenas as duas que você mencionou. Antes de mais nada é preciso considerar os dois significados da palavra nós.
A primeira versão, impressão e colagem, foi feita quando eu soube do assassinato de Salvador Puig Antich pelo governo de Franco (Espanha), em 1974. Como se sabe ele foi submetido ao “garrote vil”. Tinha mais ou menos a minha idade, uns anos mais novo e eu fiquei mortalmente impressionado. Então instalei um palanque de madeira e me fiz amarrar nele, na posição do garrote, e lá fiquei para sentir como isso teria sido. Era 1975.
Nós (Versão II)
A versão em VT foi gravada dentro da instalação (Nós Instalação) e mostra um fuzilamento com o corpo de alguém caindo, intercalado por um rosto no espelho, e a calça vazia jogada no chão. Nessa ação tão subjetiva, o rosto no espelho, meu próprio rosto,tem um significado muito profundo segundo Lacan
Gabrel Borba, 2018