ME
ME
Meu depoimento em novembro 2015
Houve ocasião em que interessei-me por Jacques Lacan. Cheguei a frequentar seminários na Escola Freudiana de São Paulo e publicar artigo nos Cadernos Freud Lacanianos. "O Romeu de Julieta" que saiu nos Cadernos 2 editado pela Cortez Editores, cuja ilustração reproduzo aqui.
Neste caso, impressionei-me com o conceito Objeto a. O objeto do desejo, inalcançável.
Instigante mas não tão simples considerando a relação entre objeto e desejo: o objeto, por fim, é a causa do desejo.
Marguerte Yourcenar pinta em L'OEuvre au Noir um quadro atrativo para o que eu tinha em mente. O belo, belíssimo, diálogo entre Henry-Maximilien e Zenon, dois jovens peregrinos com trajetórias opostas que rola na segunda metade do primeiro capítulo e termina: Zenon: "... un autre m'attend ailleurs. Je vais a lui.". Henry-Maximilien: "Qui?...". Zenon : "Hic Zeno, dit-il. Moi-même".
Daí compus Objeto ME , três cópias em cores diferentes de figura em heliografia, varetas de madeira e cordão (hoje existem apenas duas) que devem pender da parede um tanto soltas de modo que, inclinadas, balancem. E o video ME, recentemente convocado para integrar a mostra State of Fugue (in its large meaning as an escaping, a dramatic shift, an aspiration for something new and different, an inner desire to disappear) [Estado de Fuga (em seu significado mais extenso, fuga como uma mudança dramática, uma aspiração por algo novo e diferente, um desejo interior de desaparecer)]. Evento realizado no IAPIS, Stokolm, organizado pelo grupo OuUnPo, curadoria (videos) de Elena Nemkova.
Para a ocasião escrevi o pequeno depoimento que segue: " In the mid-1970s I was interested in the writings of Lacan and caught my attention the concept of 'objet a' the unreachable object of desire. Thinking of myself I drew a series of ME objects , including the VT in question in which I realized that the path to reach ones inner self is to escape oneself, deleting oneself in favor of a more abstract personage, the unreachable me. (Em meados da década de 1970, eu estava interessado nos escritos de Lacan e chamei minha atenção para o conceito de "objeto a", o objeto inacessível do desejo. Pensando em mim, desenhei uma série de objetos ME, incluindo o VT em questão, na qual percebi que o caminho para alcançar o eu interior é escapar de si mesmo, excluindo-se em favor de uma personagem mais abstrata, que me é inacessível)
GB"
Gabriel Borba