Espaço B / MAC
Espaço B
Meu depoimento
Em 1977 Walter Zanini, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, convidou-me para ocupar o recém-criado Espaço B. Segundo explicou tratava-se de um espaço que abrigaria trabalhos de arte que recorriam a recursos pouco ou nada tradicionais. Contou, também, que em frente da entrada, estaria o Espaço A, destinado a receber obras experimentalista sobre suporte tradicional e quem estaria ali durante minha apresentação seria Ubirajara Ribeiro. Pedi a ele que adiasse por alguns dias a minha abertura para que coincidisse com a do Ubirajara a quem sempre admirei. Fixaram-se as datas 25 de Abril de 1977 para a abertura e 15 de Maio para o fechamento.
Tratava-se de um salão com cerca de 250m², no meio da área de exposições, conformado por duas paredes planas -entrava-se por uma delas- e duas paredes curvas.
Meu plano de trabalho foi entregue em forma de carta de 2 páginascom um depoimento e lista de obra. Uma instalação e peças que, a meu ver, ofereciam um panorama do que ia no depoimento.
Na parede ladeada pelos dois vãos de entrada do espaço desenhei a lápis, formato grande, a figura da mão que segura a chama acesa da prancha nº 6 do projeto Pequeno Mobiliário Brasileiro, com uma lâmpada de poucos wats sobreposta que teve suas 6 pranchas fixadas na parede lateral a esquerda de quem entrava e na parede oposta, em frente, duas variações do projeto Jaula da Anta. Ambos em cópias heliográrficas, denominados para a ocasião “Projetos no Espaço Conceitual”.
No centro, duas vitrines com pequenos formatos, quase todos em papel, uma delas abrigando “Códigos Verbais” e outra abrigando “Códigos Visuais”.
No fundo a instalação inédita Nós, onde foi feita a performance que deu o título à instalação e onde foi gravado o video Nós (versão II) que a incluiu. Eram varais do tipo caipira (cordões sustentados por varas que se apoiam no chão), cercando uma área próxima da parede plana do fundo, com lençóis pendurados nos intervalos das varas. Os lençóis tinham, afixados no meio do pano, fotos de paisagens que pudessem evocar memória e saudade. Havia um sentido na escolha dos fotógrafos: eram muito próximos, cuja convivência prezei. Na parede estavam grafados nomes de outras pessoas que conviviam comigo, sobretudo aquelas que colaboraram no trabalho. No chão uma calça vazia, enrijecida e pintada de um verde horroroso, como um corpo morto na rua -"...caddi como corpo morto cade" (ainda Dante)- coberto com jornal, trocado vez por outra conforme a manchete. Ao lado do “corpo” um toca fita canhestro chamava pelo nome, com voz “fony”, pessoas que estavam mortas ou desaparecidas por arte de militares e policiais ligados ao poder.
Em 2017, 50 anos depois, a Galeria PM8, espanhola, remontou a instalação, incluindo o video, reproduzido em televisores da época e 3 fotos da performance, emolduradas.
Gabriel Borba, 2020



















